Líder comunitário diz que secretaria sabia que Amarildo era ameaçado

Novas revelações foram apresentadas no caso do pedreiro Amarildo de Souza, desaparecido desde o dia 14 de julho na comunidade da Rocinha, Zona Sul do Rio, após ser conduzido por policiais militares para uma revista na UPP do local. O líder comunitário da Rocinha, Carlos Eduardo Barbosa, afirmou nesta quarta-feira (31/07), que Amarildo já vinha sendo perseguido e ameaçado por policiais da UPP da comunidade desde o início do ano.

Segundo Carlos Eduardo, esta denúncia já havia sido feita à secretaria de Assistência Social do Estado em março. Na ocasião, ele teria sido recebido por uma funcionária que se identificou como Thaís, que anotou numa folha em branco os nomes dos moradores que estavam recebendo ameaças dos PMs, entre eles o de Amarildo de Souza, além das identificações dos policiais.

“O policial identificado como Douglas Vital, conhecido como Cara de Macaco, era o que mais implicava com Amarildo”, conta Carlos Eduardo, que ainda acrescentou: ‘Nada foi feito, nenhuma providência foi tomada e agora o Amarildo sumiu’.

O líder comunitário e um dos filhos de Amarildo se reuniram com o subprocurador-Geral de Justiça de Direitos Humanos, Ertulei Laireano, e o procurador-geral, Marfrei Viana, para traçar novas linhas na investigação do caso.

Após decorridos mais de 15 dias de investigação por parte de policiais da Delegacia da Gávea, o caso será encaminhado para a Divisão de Homicídios da Policia Civil, e será conduzido pelo delegado Rivaldo Barbosa. Pelo MP, as investigações serão acompanhadas pelo procurador Homero das Neves. Serão analisadas duas hipóteses: o crime ter sido praticado por PMs da UPP ou por traficantes da Rocinha.

A ação no Ministério Público do Estado, que vai investigar o caso, foi solicitada pelo deputado Estadual Geraldo Pudim (PR), nesta quarta-feira (31/07), após visitar a comunidade e conversar com diversas testemunhas das denúncias. Nesta quinta-feira (01/08), nova reunião de trabalho será realizada no MP do Rio, com a nova comissão de investigação, com familiares de Amarildo e amigos da vítima.

O filho do pedreiro, Anderson Souza, afirmou que a família só tem duas certezas: “de que o meu pai não está mais vivo e nós não queremos que isso aconteça com mais nenhuma outra família da comunidade”, disse ele. Quanto a hipótese de Amarildo ter sido executado por traficantes, Anderson acrescentou: “o meu pai foi levado por policiais militares da UPP”.

O procurador-geral designou o promotor de Justiça Homero das Neves Freitas para acompanhar o caso. Nesta quinta-feira (1º/08) haverá uma reunião entre o promotor e o delegado Rivaldo Barbosa, titular da Delegacia de Homicídios, para tratar das investigações. Deverá participar também Elizabete Gomes da Silva, esposa de Amarildo, e o subprocurador-geral de Justiça de Direitos Humanos e Terceiro Setor, Ertulei Laureano.

“Vivemos em um país onde as violações aos direitos humanos são crônicas e precisamos reverter este quadro. Vamos tratar o caso Amarildo da mesma forma como tratamos todos os casos de violação dos direitos humanos, de forma muito séria e contundente”, destacou Marfan. Ele não quis opinar sobre o que poderia ter acontecido: “Existem duas vertentes. Há uma versão de que isso teria acontecido em decorrência de uma ação policial truculenta e outra de que isso teria ocorrido por ação de traficantes. As duas versões serão consideradas e investigadas”.

O deputado Pudim disse que todas as evidências apontam para uma participação policial no sumiço do pedreiro. “Pelas conversas que tive com a família, ficou muito claro o desaparecimento dentro da UPP. É uma situação clara de que erraram a mão. Hoje surgem na imprensa notícias de conversas [captadas em grampos telefônicos] que teriam ocorrido entre traficantes [falando da morte do pedreiro], mas, para mim, isso é uma fumaça que estão tentando jogar, para confundir a opinião pública”, disse o deputado.

CRIME – Amarildo de Souza desapareceu no dia 14 de julho da Rocinha, após passar por uma revista por policiais da UPP no local. Peritos do Instituto Carlos Éboli já colheram material genético de um dos filhos do pedreiro para confrontar com as manchas de sangue encontradas em uma das viaturas da UPP da Rocinha e que podem ser de Amarildo, segundo a polícia.

 

delegacia

 

 Macarena Lobos / MPRJ

Fonte: Ururau

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